A porta do templo, feita de 12 madeiras, abre-se. O sol nasce e ilumina um rio que corre, vindo do interior da Terra. Traz com ele pequenos cristais que cintilam e irradiam a energia do Pai/Mãe, da Unidade.
Dou mais um passo e entro no templo, que não tem teto. O firmamento, abobadado, é a sua proteção. Não tem paredes, a natureza são as suas divisões e compartimentos. Não tem fim nem princípio, apenas uma porta que se abre a quem desperta para o nascer da unidade em si, a quem desperta para o encontro de quem nunca esteve separado, a unidade intocável, inatingível, que apenas pode ser vivida e expressa através da própria unidade em si.
A CAMINHO DO TEMPLO
Lembro-me que no caminho para o templo, um caminhante me perguntou como se chegava à porta. Lembro-me de ter respondido que o meu caminho se revelava através de mim, sempre que me desprendia da irrealidade do próprio caminho e que tal acontecia sempre que me permitia sentir o amor universal.
– E o que é o amor universal, como o posso sentir, – perguntou-me o caminhante. Eu disse-lhe que nunca pensava muito nisso, que nunca o procurava descrever porque era indescritível. A mente não podia descrever com precisão algo que não se formava na mente. Disse-lhe que o amor universal era integração plena com toda a manifestação criada e não criada. Era o sentir da unidade e do ritmo de todos os seres no seu processo de ligação e despertar, sem nada querer mudar, sem nada querer acrescentar, apenas sentir sem esforço, estar sem esforço, aceitar sem esforço, confiar sem esforço e todo o esforço que se fizesse já nos afastava da unidade, já nos bloqueava o revelar do caminho, mas que assim mesmo era a natureza do despertar e do sentir da unidade.
Lembro-me que o caminhante refletiu um pouco e depois perguntou-me se me podia acompanhar no meu caminho. Eu disse-lhe que sim, mas que o meu caminho não era o dele. Que ele não esperasse encontrar o caminho dele, seguindo os meus passos, porque todos os caminhos eram individuais e únicos. Se ele fosse um seguidor o seu caminho não se revelaria na sua plenitude e a porta não se abriria para ele, a sua porta que seria diferente da minha. Disse-lhe: – se me quiseres acompanhar, seguir os meus passos através do que sinto, do que vejo, do que sou e daquilo em que me vou tornando, através do caminho, estarás a perder a vivência do teu caminho, a experiência e o sentir que tu precisas de viver e que precisas que se revele a ti, no silêncio, na quietude e na solidão do caminho. Por isso, seguir-me, será momentâneo. Logo eu me diluirei no meu caminho para que tu encontres o teu.
O caminhante pareceu compreender e mostrou algum desânimo e receio, por isso lhe perguntei:
– Porque receias?
– Tenho receio de me perder, de não ver as indicações do caminho, de não ser capaz de o percorrer, de me perder.
Eu disse-lhe que os receios de que ele falava, eu também sentia, eles afloravam o meu ser, ao longo do caminho, mas que não me demorava neles. Olhava para eles como companheiros que queriam estar comigo e que eram o receio no receio, ou seja, o medo do próprio medo, não sendo nunca o medo, meu, da minha essência, e que que era nela que me focava, na minha essência perfeita e integra na sua ligação à unidade. Disse-lhe também para aceitar e sorrir para os receios, sabendo que a força da unidade era o farol do meu caminho e do meu sentir real.
Disse-lhe que nada de mal lhe poderia acontecer. Somos consciência pura, filhos da Inteligência, Vontade e Ação da Unidade e por isso eternos, enquanto a eternidade for sustentada pela consciência da Unidade. Tudo o que nos acontecia no caminho, na irrealidade física, eram apenas manifestações do nosso atual estado de incompletude, mas que tal era normal, porque estávamos num caminho de fragmentação para a unidade, um caminho de aprendizagem da reunião de todas as partes para sermos completude.
O caminhante pareceu entender e aceitar, abanando a cabeça em aprovação. Agarrou melhor o seu bastão, como que preparando-se para enfrentar a caminhada. Sorriu-me, abraçámo-nos e seguimos caminho, juntos, em silêncio, até que quando olhei para o lado ele já não estava lá. Sei que ia no seu caminho, eu sentia-o, na sua vivência, nas suas escolhas e senti-me a sorrir, porque aquele ser tinha escolhido não me seguir para ter o seu próprio caminho, o seu, o único, que o levaria à porta do templo, ao Despertar da Grande Luz Interior.
Voltei a focar a minha atenção no presente e contemplei o templo que era feito de toda a manifestação da criação. Era apenas uma porta e uma ombreira. Passada a porta tudo abarcávamos e a realidade apresentava-se por detrás daquilo que até aí tinha sido a minha realidade. Eu era um ser em transformação. As minhas vestes tinham caído. Eu flutuava e deslocava-me movido pelas frequências e sons inaudíveis mas que guiavam os meus movimentos e orientavam o meu caminho, sem eu saber que caminho ou desejar o que fosse.
De repente, deparei-me com uns seres altíssimos que emanavam uma luz fortíssima que tinha em si mesmo inúmeras fontes de luz e ressoavam de forma harmoniosa. Sem expressão, eram no entanto, sorriso, compaixão, quietude, amor, que me tocavam e me fazia responder da mesma forma, sem esforço.
Apercebi-me então que eu era como eles. Altíssimo, de expressão lumínica e permitia-me estar em todo o lado e tudo era luz, cor, frequência e som. Toda a criação manifestada do meu caminho era materializada através de cor, som, forma e frequência a que nós chamávamos luz.
Fui com eles e mostraram-me uma replica do nosso universo e dos universos paralelos e mostraram-me que eu, não a minha essência, mas o meu eu criado, inferior. O eu construído, o eu personalidade estava ainda presente neste universo e em universos paralelos, envolvido em múltiplas experiências, na procura do caminho, nuns ora mais adiantado e esclarecido, noutros ora mais confuso e deambulante. Assistia aos diferentes fragmentos que tinham sido manifestados a partir do meu Eu Superior. Sentia uma benevolência, um amor integrador e dei por mim a enviar pequenos cristais repletos de códigos que levavam o meu estado de unidade a todos aqueles fragmentos que procuravam o caminho. Vi como os fragmentos reagiam a esses cristais, sem grandes reações externas, mas interiormente as mudanças ocorriam. Os seus códigos eram reescritos e um som, uma frequência inaudível a esses fragmentos, manifestava-se permanentemente. Era como se fossem um farol na noite, silencioso, solitário, mas presente como uma pequena luz lampejante.
Percebi assim que podia impulsionar o despertar dos meus fragmentos e acelerar a reunião com a unidade desses seres fragmentos para que a completude se manifestasse e eu pudesse fechar este ciclo evolutivo e passar ao seguinte em plena unidade. Agora era-me fácil perceber a interação entre todas as formas de vida e entender os diferentes tipos de sincronicidades. Tal como agora estava em rede, em ligação com todos os meus irmãos, assim os meus fragmentos, no seu caminho estavam em ligação com milhares de outros seres. E era tudo tão subtil, tão sincronizado, que um simples cruzar com pessoas era uma troca de informação, uma partilha, uma simbiose, uma libertação, uma aprendizagem. Sempre tinham estado em permanente troca, partilha. Via como todos os nossos pensamentos e emoções geravam permanentemente um fluxo energético que se ligava a enormes e complexas formas de pensamento, alimentadas por uma infindável hierarquia de seres que se diferenciavam pela qualidade vibratória desses pensamentos e emoções. A multiplicidade energética era enorme o que gerava uma multiplicidade de seres que se alimentavam dessas formas-pensamento e que as mantinham através de processos conscientes sofisticados que se socorriam da nossa natureza multidimensional e das diferentes expressões do medo acumuladas ao longo de inúmeras existências para nos poderem controlar e restringir os nossos passos na descoberta do caminho. Mas também via que a manifestação da luz, onde eu estava agora, a hierarquia da luz, chamemos-lhe assim, também atuava, de igual forma, produzindo resultados para o crescimento e para o despertar de cada ser. Não podíamos interferir diretamente e tínhamos de respeitar o apelo dos seres que estavam no caminho. Atuávamos sempre que eles pediam e a nossa atuação era tanto mais profícua, quanto o estado evolutivo do ser. Percebia agora a natureza daquilo que se chama Luz e Escuridão. Ambas são manifestação da Unidade. A luz é a expressão integrada e a escuridão é a expressão fragmentada. É a vivência da não-aceitação da luz na sua forma Una. Por isso esses seres que escolhem não vivenciar a luz prescindem do amor porque ele é a ligação à Unidade e passam a expressar-se através da exponenciação das faculdades mentais, criando a sua própria fonte de energia que é alimentada por todas as forma-pensamento sustentadas pelas diferentes caras do medo.
Eu entendia ainda mais profundamente como era luz e parte integrante de toda a criação. Entendia ainda mais profundamente a capacidade de sermos cocriadores e da importância da qualidade dos nossos pensamentos e sentimentos.